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‘Passos Coelho redux’

Fiel ao seu passado o líder do PSD decidiu aproveitar este momento lançando uma ideia de força: acabar com as empresas públicas com resultados negativos. Acabar com a CP, a TAP, a Refer, a Carris, enfim, paralisar o país.

Ele está de volta e não lhe perdeu o jeito. E ele está visivelmente contente. E os Passistas estão todos muito contentes. Livraram-se de Cavaco e da sua laia. Enterraram-na bem enterrada por debaixo de mais um mandato de cinco anos que se avizinha irrelevante e sem influência pela força do escândalo que o rodeia. Este mandato será patético no sentido forte da palavra, vai fazer pena e causar repulsa. É bem feito dirá Passos Coelho.

A relação de forças entre a liderança do PSD e Belém, entre a direcção política e o verdadeiro pólo de poder de toda a direita nos últimos anos, tornou-se insustentável para Passos Coelho no Verão passado com o desastre de comunicação que foi a proposta de reforma constitucional. Cavaco queria ser reeleito e não gostou dos problemas levantados. Passos submeteu-se e calou-se. Mas a campanha presidencial alterou tudo. A sombra de corrupção que apanhou Cavaco acabou de vez com o seu estatuto de asceta político, e provocou também uma deterioração do eleitorado de Cavaco mas apenas o suficiente para não entregar Belém à esquerda. E assim Passos está de volta, com capital político, com a comunicação social ávida das suas palavras e decisões.

Fiel ao seu passado o líder do PSD decidiu aproveitar este momento lançando uma ideia de força: acabar com as empresas públicas com resultados negativos. Acabar com a CP, a TAP, a Refer, a Carris, enfim, paralisar o país. Obviamente que não é bem assim, uma proposta política tem normalmente mais algum pensamento estruturado que não cabe nos noticiários, mas foi isto que ele disse, e a escolha de palavras e a forma como é transmitida revela algo de esteticamente alarmante e irresponsável. É o tipo de ideia tão estapafúrdia que só pode ser brilhante e, se aplicar uma voz colocada talvez convença. Se nos convencer que aquilo é possível, por mais irrealista que seja, o jogo está ganho, terá carta branca para dizer, fazer ou não fazer aquilo que lhe apetecer quando ganhar o governo.

O brilhantismo, transformado hoje em meio de projecção de mensagem política aplicada ao consumo, tornou-se uma referência da imagem pública de um político, por força tanto da comunicação social como por políticos que se dedicam a encantar e provocar espanto, como se por algum acto de magia estes fossem sinónimos de força e acção política. Pensando bem o Santanismo continua bem vivo.

Publicado por Tiago Ivo Cruz em esquerda.net a 5 de Fevereiro de 2011