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UNIVERS(AL)IDADE

A Universidade de Coimbra tem um novo reitor. Esta é, por isso, uma ocasião apropriada para reflectir sobre os desafios que aí estão para as universidades em Portugal. Creio que são essencialmente dois.
Em primeiro lugar, uma resposta ao fosso crescente entre qualificação académica e precarização laboral. O mito de que o diploma universitário é um salvo-conduto para uma vida profissional condicente é cada vez mais isso mesmo: um mito. A chamada reforma de Bolonha não fez senão acentuá-lo, degradando a densidade das aprendizagens à custa de uma mera cosmética de transformação pedagógica que a penúria a que as universidades são votadas torna inevitável. Esta é a responsabilidade social da universidade: não ser cúmplice do sacrifício de uma geração que estuda para ter uma vida sem horizontes.
Daí também um segundo desafio: no tempo da democracia, a universidade portuguesa nunca foi tão socialmente selectiva como hoje. Só no corrente ano lectivo, 30% dos estudantes perderam direito a bolsa e 71 % dos bolseiros recebem este ano menos do que recebiam até agora. Mais de 15% das matrículas foram já anuladas pelos próprios estudantes por falta de meios de subsistência. Sem bolsas e com propinas proibitivas, que sentido tem falar de universidade pública? Este é por isso o tempo de desfazer equívocos sobre o que é uma universidade aberta à sociedade: é, quase 40 anos depois do 25 de Abril, uma universidade em que pobres e ricos têm lugar e podem ambos fazer caminho.

Publicado por José Manuel Pureza em Diário das Beiras no dia 2 de Março de 2011