Publicado em

‘Wikileaks 1 – NATO 0’

A “sabedoria convencional” — noção tão útil quanto saborosa concebida pelo economista John Kenneth Galbraith — necessita daquele adjetivo por esta razão: é principalmente convencional e não sabedoria. Se fosse sabedoria diríamos dela apenas que é sábia. Ao qualificá-la de convencional explicamos que ela parece sabedoria pelo seu aspecto formal, admitido e, em certa medida insincero ou até mesmo fajuto: pseudo-sabedoria.
Começava Galbraith notando que certas verdades não são aceites por serem verdades mas antes por serem aceitáveis, o que é uma coisa muito diferente, e que de caminho possibilita que outras ideias aceitáveis — até mentiras — passem por verdades também.
Publicado em

‘Alegre’

Os cartazes de Manuel Alegre nas ruas, há cinco anos, tinham apenas as palavras “Livre, justo, fraterno” — a descrição idealizada do país, tal como aparece desejada no preâmbulo da Constituição — redigido pelo próprio Manuel Alegre.
Esta escolha era puro Manuel Alegre. Pelo gosto de palavras que eram belas, mas não apenas isso; concretas e mobilizadores. E sobretudo por que nenhum marqueteiro, nenhum diretor de campanha, o aconselharia jamais a fazer um cartaz assim, tão desformatado dos códigos publicitários. Manuel Alegre acreditava na palavra livre, na palavra justo, e na palavra fraterno — não um acreditar de fé, mas um acreditar de conhecer aquelas palavras por dentro e saber o que elas podem fazer.
Teimosamente, insistiu. Teve vinte por cento.
Publicado em

‘Cavaco’

A principal — talvez única — proclamação política de Cavaco Silva para esta campanha foi considerar que Portugal deveria abster-se de comentários sobre a situação política na Europa e a crise do Euro. Segundo ele, tais comentários seriam entendidos como “insultos” pelos investidores internacionais e deixar-nos-iam à mercê da retaliações destes — com juros mais altos sobre a nossa dívida.
Silêncio contra segurança — eis o que nos propõe Cavaco.
Publicado em

‘Tudo se desconjunta’

Um banco suíço decidiu congelar a conta de Julian Assange, o rosto da WikiLeaks, por este não residir no país.

Ou, por outras palavras: está o mundo para acabar.

Um banco suíço (suíço!) não aceita dinheiro de residentes no estrangeiro. Por amor de Zeus, a banca helvética é extraordinariamente cuidadosa com os seus clientes. Se ao menos Assange tivesse – como Isaltino – um sobrinho na Suíça, a coisa ainda poderia ser conversada.

Continuar a ler ‘Tudo se desconjunta’