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Resolução Política aprovada em Assembleia Geral

Resolução Política

(aprovada na Assembleia Geral da Fórum Manifesto, a 11 de Janeiro 2015)

1- Ao longo dos anos, a Manifesto tem procurado ser promotora e parte de processos de convergência à esquerda que permitam a defesa e o alargamento da democracia portuguesa. A lógica punitiva, destruidora de direitos sociais e expectativas de futuro democrático que resultam da governação PSD/CDS, e do actual contexto europeu, acentuam a urgência desses processos de convergência, alargamento e mobilização em torno do combate à austeridade, à corrupção, à destruição do Estado Social e a captura das escolhas democráticas.

2- Da reflexão que temos feito, entendemos que, no momento de urgência que o país atravessa, é vital construir hoje na sociedade portuguesa um espaço político que se comprometa com a luta contra o empobrecimento e destruição dos laços de solidariedade, e que simultaneamente não desista de procurar interlocutores, diálogos e compromissos que permitam defender o país e a democracia. Neste sentido, e de acordo com decisões que tomamos anteriormente, a Manifesto tem estado empenhada nos últimos meses na construção de uma plataforma política que permita a construção desse novo sujeito político – a Candidatura Cidadã Tempo de Avançar.

3- O Tempo de Avançar foi lançado a partir de um apelo de 240 cidadãos, e apoiada por diferentes organizações políticas – a Associação Fórum Manifesto, o Partido Livre, a Renovação Comunista e o Movimento Cidadania e Intervenção/Porto –, no sentido de iniciar um processo político capaz de responder aos enormes desafios que o projecto democrático em Portugal terá que enfrentar nos próximos anos. Esse processo deve permitir uma mobilização cidadã alargada e um modelo de construção política participado.

4- Esse processo terá um momento fundador – a Convenção para uma Candidatura Cidadã, que decorrerá no último fim-de-semana de Janeiro. Aí serão discutidas as linhas políticas orientadoras, as linhas de trabalho programático e um modelo de construção da candidatura às legislativas de 2015. Será a partir das escolhas feitas na Convenção que deve ser feito um amplo trabalho de mobilização social e construção programática que responda à situação do país.

5- Para o tempo político que vivemos não basta, contudo, somar organizações – as consequências políticas e sociais de quatro anos de austeridade exigem uma mobilização e participação cidadã capaz de responder às enormes dificuldades que o país atravessa e às que terá que responder nos próximos anos. Só um processo mobilizador permitirá o que é fundamental – construir um mandato claro de defesa de um modelo de democracia que respeite as escolhas dos cidadãos, que defenda a justiça social, e reganhe a capacidade de construir um futuro diferente do empobrecimento irreversível do país. Para isso, o espaço de construção da Candidatura Cidadã Tempo de Avançar tem que se alargar, trazer novos protagonistas e novas gerações, e reganhar para a participação muitos que a abandonaram nos últimos anos. É com esse o esforço que a Manifesto se compromete.

6- A construção deste espaço não deve, contudo, fazer-nos esquecer que é necessário incentivar o diálogo com outros actores políticos. Nesse sentido, é fundamental o desafio a outras forças de esquerda para uma alternativa mobilizadora e imediata à austeridade. Assim, BE, PCP e PS devem ser também desafiados a assumir responsabilidades para construir uma governação de esquerda.

7- Perante as possibilidades que se abrem em escala europeia a partir de uma eventual vitória eleitoral do Syriza nas próximas eleições da Grécia, a importância de desenhar em Portugal um compromisso de governação decente, que inverta o ciclo de destruição dos últimos anos, ganha uma nova acuidade. É nesse caminho, em escala nacional e europeia, procurando construir a Candidatura Cidadã Tempo de Avançar e manter diálogos com todos os que se têm batido pelo projecto democrático, que a Manifesto continuará a trabalhar. Dados os sinais de receptividade ao processo político que temos defendido, estamos convictos de que esta é a resposta democrática que o país tanto necessita.

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Convocatória da Convenção para uma candidatura cidadã

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A convocatória está aberta a subscrições aqui.

Portugal vive um tempo de urgência. Há uma geração que abandona o país, uma economia frágil que se desmorona em sucessivas falências de empresas, um Estado que é reduzido às suas funções mínimas, uma democracia que perde poder efectivo, um corredor de escolhas que, a cada dia que passa, se vai estreitando. É, para todos os cidadãos, um tempo de exigência. Da organização da resistência, mais do que nunca necessária, tem de nascer a construção de uma alternativa, com soluções praticáveis que mobilizem as energias democráticas do país e sejam capazes dos diálogos possíveis.

A urgência que o país sente e as soluções que o país exige obrigam a escolhas difíceis. Cabe-nos garantir que não sejam entre ficar na mesma ou voltar para trás. Não basta mudar o governo para haver a mudança necessária. As próximas eleições têm de corresponder à vitória de um programa de defesa do Estado Social e do Estado de Direito e de aprofundamento da democracia em Portugal e na Europa.

Sabemos em que país queremos viver. Num país que proteja o trabalho com direitos e valorize o conhecimento. Que ajude a economia a ser mais inovadora e mais solidária. Que proteja o ambiente e o território. Que se orgulhe do Estado Social e melhore a sua Escola Pública, o seu Serviço Nacional de Saúde e a sua Segurança Social. Que combata a precariedade, redistribua o rendimento e erradique a pobreza infantil. Onde a igualdade seja o eixo central de um novo contrato social e a alavanca para um novo modelo de desenvolvimento.

Sabemos o governo que queremos. Queremos um governo progressista que recuse a austeridade como forma de sair da crise e a passividade como forma de estar na Europa. Que construa um poder democrático que governe para o povo e não seja refém de interesses privados. Um governo assim enfrentará escolhas difíceis, mas necessárias. Em Portugal, precisará de um mandato popular para defender a Constituição. Na Europa, precisará de uma nova política de alianças e de uma atitude mais exigente e insubmissa para combater o Tratado Orçamental e iniciar um processo de reestruturação da dívida pública.

É tempo de avançar. Esta é uma convocatória à vontade cívica de todos quantos acreditam que esta governação progressista é possível e deve ser construída pela força da cidadania. Uma convocatória para uma Convenção Cidadã a ter lugar a 31 de janeiro, em Lisboa. Uma convocatória à construção de um programa eleitoral auscultando os cidadãos, num processo de debate e deliberação público, transparente e informado. Uma convocatória a uma candidatura cidadã às próximas eleições legislativas, através de um processo de construção de listas aberto, em eleições primárias. Acima de tudo, uma convocatória a uma maior responsabilização política de todos, eleitores e eleitos, antes e depois do voto, para uma alteração fundamental das políticas que têm devastado o país nos últimos anos. A sociedade portuguesa reclama uma democracia mais intensa, mais informada e mais responsável. E soluções viáveis para o terrível impasse em que se encontra. Pode ser diferente. Depende de nós.

A convocatória está aberta a subscrições aqui.

Subscritores iniciais:

 

Abílio Hernandez, Coimbra

Adriano Barrias, Lisboa

Alberto Melo, São Braz de Alportel

Alberto Midões, Viana do Castelo

Alexandra Lucas Coelho, Lisboa

Alexandre Barroso, Coimbra

Alexandre Estrela, Lisboa

Alexandre Oliveira, Lisboa

Ana Bastos, Lisboa

Ana Costa, Lisboa

Ana Drago, Lisboa

Ana Fernandes, Porto

Ana Filipa Larcher, Bissau / Lisboa

Ana Mafalda Pernão, Lisboa

Ana Maria Oliveira Pereira, Sintra

Ana Prata, Lisboa

Ana Raquel Matos, Coimbra

André Barata, Lisboa

André Belo, Rennes

André Carmo, Lisboa

André Freire, Lisboa

André Gago, Lisboa

André Nóvoa, Lisboa

André Teodósio, Lisboa

Ângela Luzia, Almada

Anísio Franco, Lisboa

António Avelãs, Lisboa

António Gonzalez, Torres Vedras

António Loja Neves, Oeiras

António Martins Coelho, Vila Rela de Sto. António

António Serzedelo, Setúbal

Armandina Maia, Lisboa

Augusto M. Seabra, Lisboa

Bárbara Bulhosa, Lisboa

Boaventura de Sousa Santos, Coimbra

Branca Carvalho, Viana do Castelo

Bruno Dias Pinheiro, Lisboa

Carlos Almeida, Lisboa

Carlos Brito, Alcoutim

Carlos Gouveia-Melo, Lisboa

Carlos Luís Figueira, Vila Real de Sto António

Carlos Nobre Neves/PACMAN, Lisboa

Carlos Teixeira, Lisboa

Catarina Andrade Fidalgo, Lisboa

Catarina Mourão, Lisboa

Catarina Ruivo, Lisboa

César Nuno Madureira, Lisboa

Cipriano Justo, Cascais

Clarisse Marques, Lisboa

Cláudia Rita Oliveira, Lisboa

Cláudio Borges, Lisboa

Daniel Jesus, Lisboa

Daniel Oliveira, Lisboa

David Crisóstomo, Almada

David Marçal, Lisboa

David Morais, Leiria

David Xavier, Lisboa

Delberto Aguiar, Lisboa

Diana Barbosa, Porto

Diogo Martins, Vila Franca de Xira

Diomar Santos, Porto

Edgar Costa, Azeitão

Eduardo Viana, Oeiras

Eldad Manuel Neto, Porto

Elísio Estanque, Coimbra

Emílio Távora Vilar, Lisboa

Enrique Pinto-Coelho, Lisboa

Eugénia Pires, Lisboa

Fernanda Marinho Amado, Loures

Fernando Martins, Lisboa

Fernando Nunes da Silva, Lisboa

Fernando Sousa Marques, Sesimbra

Fernando Vendrell, Lisboa

Filipa Vala, Lisboa

Filipe Moura, Lisboa

Filipe Santos Henriques, Alenquer

Florival Lança, Lisboa

Gaspar Martins Pereira, Porto

Geiziely Glícia Fernandes, Lisboa

Gonçalo Pereira, Lisboa

Graça Rojão, Covilhã

Guadalupe Simões, Lisboa

Gustavo Cardoso, Lisboa

Gustavo Rubim, Lisboa

Helder Faustino Raimundo, Loulé

Henrique Borges, Porto

Henrique Mendes, Lisboa

Henrique Sousa, Seixal

Hugo Faria, Lisboa

Isabel do Carmo, Lisboa

Isabel Guerra, Lisboa

Isabel Loureiro, Lisboa

Isabel Mendes Lopes, Lisboa

Isabel Prata, Coimbra

Isabel Santos Duarte, Porto

Isabel Tadeu, Lisboa

Ivan Nunes, New York

Ivone Barracha, Torres Vedras

João Arriscado Nunes, Coimbra

João Bicho, Lisboa

João Bonifácio, Lisboa

João Carlos Afonso, Lisboa

João Carlos Coelho dos Santos, Porto

João  M. Almeida, Lisboa

João J. C. Ferreira, Coimbra

João Lourenço, Lisboa

João Monteiro, Porto

João Vasco Gama, Lisboa

Joaquim Mealha Costa, Loulé

Jorge Espírito Santo, Lisboa

Jorge Gravanita, Lisboa

Jorge Malheiros, Lisboa

Jorge Martins, Porto

Jorge Morais,Porto

Jorge Pinto, Bruxelles

Jorge Vala, Lisboa

Jorge Wemans, Lisboa

José António Tavares, Lisboa

José Aranda da Silva, Cascais

José Carlos Martins, Coimbra

José Carlos Miranda, Porto

José Castro Caldas, Amadora

José Costa, Bruxelles

José Delgado Martins, Lisboa

José Dias, Coimbra

José Fanha, Lisboa

José Manuel Basso, Nisa

José Manuel Carreira Marques, Beja

José Manuel Henriques, Lisboa

José Manuel Neto Azevedo, Açores

José Manuel Tengarrinha, Cascais

José Maria Silva, Porto

José Mário Silva, Lisboa

José Munhoz Frade, Beja

José Pedro Pereira, Lisboa

José Pedro Silva, Almada

José Reis, Coimbra

José Vítor Malheiros, Lisboa

JP Simões, Lisboa

Júlia Coutinho, Lisboa

Júlia Leitão Barros, Lisboa

Júlio Machado Vaz, Porto

Leonor Barata, Coimbra

Leonor Cintra Gomes, Lisboa

Luciana Rio Branco, Lisboa

Luís Filipe Santos, Lisboa

Luís Moita, Lisboa

Luís Moutinho, Porto

Luís Quintais, Coimbra

Luís Valente, Jena

Luísa Alvares, Basel

Luísa Branco Vicente, Lisboa

Luísa Costa Gomes, Lisboa

Luísa Mesquita, Santarém

Manuel Branco, Évora

Manuel Brandão Alves, Lisboa

Manuel Coelho, Sines

Manuel Correia Fernandes, Porto

Manuel Vieira, Porto

Manuela Barreto Nunes, Braga

Manuela Carvalheiro, Coimbra

Manuela Silva, Lisboa

Manuela Vieira da Silva, Lisboa

Marco Barroso, Haarlem / Lisboa

Margarida Bak Gordon, Lisboa

Maria Augusta Sousa, Oeiras

Maria Benedicta Monteiro, Lisboa

Maria Clara Fernandes, Porto

Maria Eduarda Gonçalves, Lisboa

Maria Emília Costa, Faro

Maria João Andrade, Lisboa

Maria João Cabrita, Braga

Maria João Cantinho, Lisboa

Maria João Freitas, Sintra

Maria João Pires, Lisboa

Maria José Espinheira, Porto

  1. Margarida Trocado Moreira, Loures

Maria Ofélia Janeiro, Alverca

Maria Tengarrinha, Lisboa

Mariana Topa, Matosinhos

Mário Figueiredo, Lisboa

Mário Laginha, Lisboa

Mário Ruivo, Lisboa

Marisa Galiza, Mafra

Marta Bobichon Loja Neves, Oeiras

Marta Delgado Martins, Lisboa

Marta Moita, Lisboa

Miguel Ângelo Andrade, Lisboa

Miguel Dias, Setúbal

Miguel Gonçalves Mendes, Lisboa

Miguel Vale de Almeida, Lisboa

Miguel Won, Lisboa

Milice Ribeiro dos Santos, Porto

Nídia Zózimo, Lisboa

Nuno David, Lisboa

Nuno Fonseca, Lisboa

Nuno Fragoso Gomes, Lisboa

Nuno Serra, Oeiras

Paolo Marinou-Blanco, Los Angeles / Lisboa

Patrícia Beldade, Oeiras

Patrícia Brito Mendes, Lisboa

Patrícia Gonçalves, Lisboa

Paula Cabeçadas, Lisboa

Paula Velazquez, Lisboa

Paulo Fidalgo, Lisboa

Paulo Jacinto, Sintra

Paulo Monteiro, Maia

Paulo Peixoto, Coimbra

Paulo Velez Muacho, Seixal

Pedro “Pecas” Monteiro, Cascais

Pedro Bacelar de Vasconcelos, Braga

Pedro Gonçalves, Lisboa

Pedro Nunes Rodrigues, Leiria

Pedro Roque Domingues, Lisboa

Pedro Vieira, Lisboa

Pierre Guibentif, Lisboa

Pilar del Río, Lisboa

Priscila Soares, São Braz de Alportel

Rafael Esteves Martins, Sintra

Renato Carmo, Lisboa

Ricardo Alves, Lisboa

Ricardo Paes Mamede, Lisboa

Ricardo Sá Fernandes, Lisboa

Rita Covas, Cape Town / Porto

Roberto Merrill, Braga

Rodrigo Gonçalves, Lisboa

Rogério Moreira, Oeiras

Rosa Barreto, Lisboa

Rosa Maria Martelo, Porto

Rui Bebiano, Coimbra

Rui Feijó, Porto

Rui Tavares, Lisboa

Rui Valada, Amadora

Sandro Mendonça, Lisboa

São José Lapa, Sintra

Sara Araújo, Coimbra

Sara Magalhães, Lisboa

Sérgio Lavos, Lisboa

Sofia Cordeiro, Lisboa

Susana Beirão, Vila Nova de Gaia

Ulisses Garrido, Lisboa

Vasco Pimentel, Lisboa

Vera Tavares, Lisboa

Virgílio Morais de Matos, Lisboa

Viriato Soromenho-Marques, Lisboa

Vítor Louro, Sesimbra

Vítor Sarmento, Lisboa

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É tempo de avançar – uma candidatura cidadã às eleições legislativas de 2015 – Daniel Oliveira

do

Texto do Daniel Oliveira

Hoje, um grupo de mais de 240 cidadão tornou pública uma convocatória para uma convenção, no dia 31 de janeiro. Uma assembleia que fará nascer uma plataforma eleitoral para as eleições legislativas de 2015. O texto da convocatória é curto mas claro nos seus objetivos políticos: mobilizar os cidadãos para que nas próximas eleições não mude apenas o governo. Mude a governação. Uma governação que recuse a austeridade como forma de sair da crise e a passividade como forma de estar na Europa. Que construa um poder democrático que governe para o povo e não seja refém de interesses privados. (leiam a convocatória e a lista de subscritores em baixo). O força cidadã que seja exigente consigo mesma e esteja disposta a fazer parte da solução.

Esta convocatória está aberta à subscrição pública. Aqueles que a subscreverem participarão em igualdade de direitos e deveres na assembleia cidadã que, a 31 de janeiro, definirá, de forma democrática e participada, o que virá a ser esta candidatura. Desde o seu funcionamento às suas linhas programáticas, passando pelos seus candidatos e a sua orientação política. Apesar do apoio expresso e empenhado de várias organizações a esta candidatura (Fórum Manifesto e Livre, que a fizeram nascer, MIC-Porto e Renovação Comunista, que deciriam juntar-se a esta ideia), que contribuirão de formas diversas para o reforçar (o Livre, por exemplo, com o suporte partidário que permite ir a votos num país que não autoriza listas de cidadãos), são os mais de 240 promotores iniciais que se dirigem aos cidadãos. Com o seu nome e em seu nome. E serão todos, esperemos que milhares, a título indidividual e em pé de igualdade, tenham ou não filiação em qualquer organização, que decidirão o que será este movimento de convergência e que o farão funcionar.

Entre os mais de 240 promotores, estão nomes mais e menos conhecidos. Sindicalistas, jornalistas, autarcas, artistas, académicos, estudantes, médicos, bolseiros, activistas sociais, trabalhadores, desempregados, emigrantes. Podem ver a lista completa em baixo. Por facilidade, deixo aqui apenas alguns nomes mais facilmente identificáceis mas nem por isso mais importantes: Ana Drago, Rui Tavares, José Reis, Ricardo Sá Fernandes, Carlos Brito, Boaventura de Sousa Santos, Elísio Estanque, Eugénia Pires, Isabel do Carmo, José Aranda da Silva, Júlio Machado Vaz, Luis Moita, Mário Ruivo, Pedro Bacelar de Vasconcelos, Ricardo Paes Mamede, Viriato Soromenho-Marques, Alexandra Lucas Coelho, André Gago, André Teodósio, Augusto M Seabra, Bárbara Bulhosa, Pacman, Daniel Oliveira (eu mesmo), Jorge Wemans, José Fanha, José Vítor Malheiros, JP Simões, Luísa Costa Gomes, Mário Laginha, Pilar del Rio, São José Lapa, os autarcas (ou ex-autarcas) Fernando Nunes da Silva, João Afonso, José Manuel Basso, José Manuel Carreira Marques, Manuel Coelho e Manuel Correia Fernandes e os sindicalistas António Avelãs, Florival Lança, Guadalupe Simões e Ulisses Garrido.

Estes são alguns dos nomes que ajudaram a dar um primeiro impulso, num apelo ao país. Mas um movimento de cidadania, ainda mais quando quer ir a votos, só o pode ser quando se implanta na sociedade e é tomado pelos cidadãos, sejam conhecidos ou “anónimos”, como são, uma e outra coisa, os promotores iniciais desta iniciativa. É hoje que tem de começar a mudar a vida política portuguesa. Envolvendo na democracia quem dela está a desistir. É tempo de avançar para acordar o País. Subscreve a Convocatória da Convenção para uma candidatura cidadã às eleições legislativas de 2015. Ajuda a fazer democracia.

PODES SUBSCREVER AQUI: www.tempodeavancar.net

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“Vamos criar uma plataforma política de alternativa concreta” – Ana Drago

Ana

Entrevista da Ana Drago ao Expresso

Quatro meses depois de ter abandonado o Bloco de Esquerda Ana Drago aceitou falar ao Expresso. Para dizer que há uma esquerda alternativa disposta à convergência e que o “PS é um parceiro imprescindível para mudar o rumo do país”. No entanto nada está garantido Desde logo porque António Costa teima em “deixar muitas dúvidas por esclarecer e até agora não foi muito claro sobre o que tenciona fazer”. A ex-deputada está de volta à política e às eleições. E garante que não está aqui para criar um grupo de amigos do PS.

Porque demorou tanto tempo para falar?

Porque construir uma resposta que ao mesmo tempo seja capaz de reunir vontades políticas de falar verdade aos portugueses e de estruturar um programa que defenda o fundamental é um processo que demora. Demora tempo e exige persistência.

E já encontrou a plataforma de convergência à esquerda que procurava?

Há leituras comuns da situação política do país que se tornou um pouco paradoxal a esquerda não assume nenhuma vontade de um projeto de governação que responda à situação de emergência que estamos a viver e as forças políticas que querem governar acham possível ir governando ou apresentar se à governação sem dizer nada de concreto sobre os constrangimentos que o país enfrenta. Eu creio que existe um espaço e uma disponibilidade à esquerda por parte de algumas organizações e de muitos cidadãos que exigem uma credibilização da representação democrática. Esse percurso está a ser feito.

O problema é o da finalização. Como se faz essa convergência?

Há possibilidade de criar uma plataforma política de alternativa concreta e com capacidade de influenciar a governação ancorada à esquerda. Essa plataforma irá a eleições nas legislativas de 2015.

E como se chama com quem é que conta como vai surgir?

Neste momento não me cabe a mim dizer mais do que isto.

Isso quer dizer o quê? A Manifesto e o Livre vão juntos a eleições?

Conversámos longamente com o Livre e com pessoas do Manifesto 3D. Essa possibilidade existe.

Nessa convergência cabe o PS?

Claro obviamente.

António Costa vem ao encontro das vossas expectativas?

As primárias mostraram que há uma vontade de mudança do PS. Mas não basta a António Costa apresentar-se como o homem de esquerda do PS ou fazer uma oposição que grita mais alto. Até agora não foi muito claro sobre a proposta política que tem para apresentar ao país.

O que diz no programa para a década é suficiente para o arranque do diálogo à esquerda?

Deixa muitas dúvidas por esclarecer. Temos de começar a discutir como se faz. Como se relança o consumo interno que permita criar algum crescimento económico e ter alguma sustentabilidade das finanças públicas? Como se olha para uma dívida acima dos 130 do PIB? Estas são as questões fundamentais. Não são fáceis. São trágicas. E sobre elas António Costa até agora não foi claro. Não tenho dúvidas de que quero um diálogo à esquerda e com o partido socialista. Mas qualquer entendimento tem de surgir de um programa. Não é útil ao país criarmos um grupo de amigos do PS!

Não tem linhas vermelhas no diálogo com o PS?

Não interessa traçar linhas vermelhas. Importa abrir caminhos verdes. Não se começa uma discussão assim quando o que importa é mobilizamos o país para sustentar um governo que defenda verdadeiramente a escola pública, o Serviço Nacional de Saúde, a sustentabilidade da segurança social e um modelo de solidariedade intergeracional.

Como é que velhos inimigos se podem entender. É moldável?

Não gosto da palavra moldável. Fiz oposição aos governos do PS fui combativa face aos governos de Sócrates e tenho orgulho disso. Mas vivemos um contexto diferente. Temos uma relação muitíssimo dura no contexto europeu. O modelo de Estado social está a ser posto em causa. É esta fragmentação do país e do regime que devemos discutir. O PS é neste contexto um parceiro imprescindível. É fundamental contar com o PS. Mas temos de ver se está ou não disponível.

O eleitor não achará que foi a Ana Drago quem mudou?

Sempre defendi mesmo no Bloco a capacidade de criar articulações que defendam na vida real das pessoas modelos de transformação. E continuo a achar exatamente a mesma coisa. O que hoje não podemos escamotear é que existe uma situação de emergência e uma alteração de contexto histórico. E isso é de tal forma importante que se criam compromissos. Não se criam consensos porque não é isso que interessa. Não estamos aqui para pensarmos todos da mesma maneira. Se eu achasse que o PS era a solução para a governação do país votava nele entrava no PS. Não creio. Acho que o PS é um elemento determinante mas não é a resposta única.

Mas se o PS não quiser, pode chegar às legislativas sem convergência nenhuma…

Não vejo utilidade numa convergência para ir às legislativas. O PS tem o seu programa, o seu eleitorado fará a sua estruturação e apresentará uma alternativa ao país. Mas existe um espaço político à esquerda que é diferente do PS e que está disponível para encontrar compromissos em torno de um programa. Não é mais do que isto.

Não haverá coligação pré-eleitoral?

Não vejo interesse nisso. Acho que é preciso testar a força, a legitimidade, a representatividade deste tipo de proposta política que estou a formular. É preciso ver se ela ganha dinâmica política e social. Se tem força eleitoral. A capacidade de criar compromisso e de fazer diálogos dependerá dessa força.

O seu discurso contém uma crítica implícita ao BE e ao PCP…

Compreendo muitíssimo bem o sentido de orientação po lítica em torno de um processo de resistência. Compreendo intelectualmente. Não creio que responda à situação que estamos a viver. Não nos podemos dar ao luxo, quando as coisas pelas quais lutamos se estão a dissolver, de ficar satisfeitos em fazer resistência.

Não teme estar a contribuir para a implosão do BE?

Não creio. O Bloco é um partido com algum enraizamento local, com muita gente ativa disponível, capaz, com o coração do lado certo…

E também em queda eleitoral…

Saí do BE e não me sinto com legitimidade para fazer leituras políticas.

Faz parte dos seus projetos de futuro próximo voltar à Assembleia da República?

Não vejo qualquer interesse em debater isso. É demasiado cedo. Temos de começar a discutir política.

Que também se faz de pessoas…

Claro. Eu estou disponível.

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Ana Drago e Daniel Oliveira querem uma nova Esquerda com “força eleitoral”

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Notícia do Jornalismo Porto Net

O Clube dos Pensadores regressou esta segunda-feira com a presença de Ana Drago e Daniel Oliveira. O debate serviu para a discussão sobre a atual situação da democracia portuguesa e o futuro da Esquerda no contexto político do país.

Ana Drago, antiga dirigente e deputada do Bloco de Esquerda (BE), e Daniel Oliveira, fundador do partido e jornalista, foram os convidados do organizador Joaquim Jorge, no regresso do Clube dos Pensadores, esta segunda-feira, no Hotel Holiday Inn, em Vila Nova de Gaia. A escolha em dose dupla deveu-se à recente desvinculação de ambos do Bloco de Esquerda e consequente integração na Associação Fórum Manifesto.

No debate referiu-se a aproximação do Fórum Manifesto ao Partido Livre, de Rui Tavares, e a um eventual diálogo pós-eleitoral entre uma nova plataforma de Esquerda e o Partido Socialista. A questão das “metas do tratado orçamental” e da “dívida sufocante” mereceram a condenação de Ana Drago e Daniel Oliveira, que temem a destruição do Estado social com as políticas atuais.

Ana Drago defendeu a criação de um movimento conjunto de cidadania para a defesa do país e de a organização de novas formas de participação cívica e politica, com a tradição das do país vizinho. Para a antiga deputada, as negociações que estão a ocorrer entre um conjunto de cidadãos, o Partido Livre e outras organizações são importantes para o aparecimento “de uma Esquerda que esteja disponível para olhar o país e falar com verdade sobre os enormes constrangimentos” com que Portugal se depara.

A organização de forças com capacidade “para alterar o contexto” e a formação de um Governo que promova “uma batalha pela defesa do modelo da nossa democracia” é o caminho que Ana Drago propõe e a força social de que pretende fazer parte.

Precariedade “é a maior doença, não só social, mas política do século XXI”

Daniel Oliveira mencionou a criação de uma plataforma política e de cidadãos com “força eleitoral”, disponível para “condicionar e intervir na governação” de uma forma real e aproximar o Estado dos cidadãos. Uma plataforma que não promova mais cortes na saúde, na educação e nas reformas.

O convidado falou sobre a necessidade de se proteger a democracia face à corrupção, aos interesses privados e aos mercados. Para Daniel Oliveira, é essencial “devolver o poder ao Estado, à política, à democracia”, o que asseguraria uma maior participação cívica e a defesa da atividade do político, que o convidado considera “digna”.

O ex-bloquista debruçou-se, ainda, sobre a relação próxima entre a igualdade e a corrupção. Afirmou que “as sociedades menos corruptas são, geralmente, as sociedades menos desiguais”. Sobre o estado atual do país, Daniel Oliveira considerou fundamental recusar o discurso da inevitabilidade, do medo e da passividade em relação às decisões da Europa, por estar em causa a soberania nacional. Em relação à precariedade no trabalho, o convidado defendeu que esta “é a maior doença, não só social, mas política do século XXI”.

No final do debate, Joaquim Jorge lançou o desafio para que os convidados regressem ao Clube dos Pensadores num futuro próximo, no momento em que ambos se apresentem como candidatos a cargos políticos.

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Guião Político para as Europeias 2014

Um guião político para as Europeias de 2014 de Alexandre Abreu, João Rodrigues e Nuno Teles

“Um guião para um debate informado

O guião político para as Europeias de 2014, escrito pelo Alexandre Abreu, pelo João Rodrigues e por mim, pretende intervir no debate sobre a questão nacional, socioeconómica e política, mais importante – a europeia – e sobre a estratégia da esquerda que não desiste para as eleições do próximo ano. Sendo escrito por quem tem e toma partido, intervém numa discussão ampla para convergências tão amplas quanto possível. Ideias centrais: a campanha de uma força de esquerda que queira ser portadora de um projeto de esperança para os que aqui vivem tem de saber articular três grandes linhas – desobediência e recusa das perdas passadas e futuras de soberania, renegociação da dívida e exigência de saída do Euro…” (Nuno Teles, in Ladrões de bicicletas, 25/11/2013)

 

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Portugal na Encruzilhada das Eleições Europeias

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Portugal na Encruzilhada das Eleições Europeias

Crise, austeridade e moeada única

(texto aprovado na Assembleia Geral de dia 1 de dezembro do Fórum Manifesto)

O processo de integração de Portugal na chamada construção europeia foi sempre o debate central da jovem democracia portuguesa. A sua ancoragem ao projecto europeu traduziu-se, logo após o PREC, numa escolha política clara: a da inscrição de Portugal no quadro das democracias ocidentais, cujo sentido europeísta marcou o discurso da maioria das forças partidárias nacionais ao longo de mais de trinta anos. Fosse pelo desempenho económico dos países do centro europeu, fosse pelos seus índices de bem-estar e redistribuição, ou fosse ainda pelo significado dos novos direitos nesses países, a «vocação europeia» da política portuguesa – da esquerda à direita – marcou fortemente a identidade democrática do país. Nesse sentido, e uma vez resolvida a configuração do regime, a Europa passou a ser o centro do projecto político nacional.

Não foi por acaso que as coisas assim aconteceram. Uma vez «perdidas as colónias» – e confrontada com o tempo de estruturação da internacionalização das economias – a percepção da dificuldade de inserção do país num qualquer outro espaço de articulação transnacional agregou segmentos muito distintos da sociedade, tornando Portugal (antes da dita «crise das dívidas soberanas»), num dos países mais entusiastas do projecto europeu. Ao que acresce a experiência de melhoria dos níveis de vida no contexto da pertença à UE, o reconhecimento da tradição europeia na criação de bem-estar e na salvaguarda de direitos, ou o impacto dos próprios fundos europeus na modernização do país. Talvez tenham sido as expectativas criadas que, de algum modo, não tenham permitido pressentir, clarificar e tomar atempadamente posição face à orientação que o projecto europeu passou a assumir desde o início dos anos noventa.

É certo que a construção europeia, nascida no pós-guerra, surgiu por contraposição ao Bloco de Leste. Quando o Muro cai, a Europa triunfa – e a reunificação alemã sela esse triunfo. Mas, aparentemente, o fim da Guerra Fria deixa a Europa sem um projecto político definidor – um «oponente» que lhe confira identidade. E é sobretudo a partir dos anos noventa que a redefinição da política europeia se faz, em torno dos mercados e da globalização financeira. Como é em torno dessa agenda – assente na liberdade de movimentos para o capital e mercadorias – que a Europa se redefine enquanto entidade política criadora de um monumental mercado interno: o tempo do Mercado Único Europeu e da emergência do projecto da moeda única.

No campo político, o Tratado de Maastricht consagra essa metamorfose – e em Portugal, à excepção do PCP, esses são os tempos de euforia da pertença à UE. E, contudo, é bom lembrar as dificuldades sentidas em França aquando do referendo em 1992 sobre o Tratado de Maastricht, que é talvez o primeiro sinal de desacerto entre as elites governantes e os seus povos na construção europeia. A partir daqui não haverá paz nas consultas nacionais sobre o projecto europeu: a crise de legitimação pairará para sempre, como um espectro, sobre a União.

*****

Servem estes parágrafos para dar conta de onde estamos. Dito de outro modo: o Memorando de Entendimento com a Troika em Portugal é um resultado dessa nova identidade da Europa, unicamente assente num projecto de mercado europeu e da moeda europeia. O Memorando, isto é a austeridade como política transnacional permanente no espaço da União – que opõe as economias fortes do Norte às várias periferias a «Sul» – é não só o resultado do impasse do «projecto mercado» na construção da Europa, como alimenta esse mesmo impasse, ao negar uma solução política fora do próprio paradigma do «projecto mercado».

A crise que vivemos conjuga pois dois colossais falhanços desse projecto, iniciado nos anos noventa. O primeiro falhanço, que parece já esquecido, tornou-se patente com a crise financeira de 2008, criada pelos «mercados» financeiros especulativos, libertos de mecanismos de regulação. Dessa crise poder-se-ia ter retirado uma conclusão semelhante à crise de 1929: ambas são o resultado do próprio mercado funcionar e não o seu contrário. E é justamente por isso que a política tem que tutelar os arranjos «naturais» do mercado.

O segundo falhanço é o Euro, na sua arquitectura disfuncional. Concebido como moeda única para economias profundamente díspares – e desprovido de mecanismos políticos de intervenção económica e monetária capazes de permitir a correcção das assimetrias existentes – a sua crise apenas esperava pela oportunidade de se manifestar. Antes ainda da questão das «dívidas soberanas», as dificuldades deste modelo de moeda única estavam já patentes na estagnação larvar de uma década de vida do Euro, que resultou em Portugal na chamada «década perdida», marcada pelo crescimento anémico da economia nacional. Com os impactos da crise financeira internacional de 2008 sobre as contas públicas, os efeitos da adesão ao euro (e de todos os choques a que foi sujeita a economia portuguesa), manifestaram-se em todo o seu esplendor, sob a forma de uma aparente «crise da dívida soberana».

O Memorando de Entendimento imposto a Portugal a 17 de Maio de 2011 nasce assim da sobreposição destas duas crises do «projecto mercado»: a da voragem da actividade especulativa, no pós-2008, em torno das dívidas soberanas; e, indissociável deste primeiro factor, a crise da arquitectura institucional do Euro, que deliberadamente inibe a actuação do Banco Central, impedindo-o de adoptar mecanismos de correcção de assimetrias entre economias da zona euro, não sobrando projecto político para lá da integração através do mercado.

Três anos passados desde o início da intervenção da Troika na Grécia, não resta hoje qualquer dúvida de que a Alemanha, interessada em se afirmar como principal potência no espaço europeu, não tem propriamente interesse em enveredar por uma integração política que pressuponha a alteração do modelo de governação da moeda única. Se o «projecto mercado» da Europa falhou, isso não significa que a Alemanha esteja disposta a propor ou seguir qualquer outro modelo de integração.

A prová-lo está o discurso moralista sobre o desempenho económico dos povos do Sul, que é hoje linguagem corriqueira da maior parte dos responsáveis alemães e europeus, e que é aliás a primeira razão apontada para reforçar a política de austeridade como mecanismo punitivo duradouro sobre os povos do Sul. Para quem aguardava pelas eleições alemãs de Setembro de 2013, que permitiriam a Merkel dar início a uma nova abordagem na crise europeia, os resultados estão à vista: nem mesmo a entrada do SPD para a coligação de governo alterará a política de sangramento das democracias do Sul. Pelo contrário, a opinião pública alemã parece cada vez menos disponível para uma inversão de lógica política.

A questão das dívidas dos países do Sul assumiu assim a sua natureza de processo essencialmente político: as medidas impostas ao longo destes três anos tornaram claro que não se trata de criar condições para a sua eventual amortização. A história recente da Grécia e de Portugal mostra que o centro da Europa está disposto a dizimar países e economias apenas e só para sossegar os mercados financeiros. Não para reestruturar economias, ou sequer para pagar a dívida. Aliás, todos sabem que ela é impagável. Mas não é isso que interessa. As nuvens escuras adensam-se sobre o projecto europeu.

1. A política da austeridade como o PREC da direita

Em Portugal, o contexto do Memorando deu aos sectores mais ortodoxos a oportunidade que há muito esperavam. À boleia da austeridade imposta pela Troika, a direita inicia um processo de subversão do contrato social em que se funda o regime democrático português.

É certo que esse era já o projecto do grupo político que se reuniu em torno de Pedro Passos Coelho e de Carlos Moedas, e que conquistou a direcção política do PSD. Antes mesmo do agravamento da crise e da assinatura do Memorando, Passos Coelho apresentou o seu projecto de revisão constitucional: fim da proibição constitucional do despedimento sem justa causa; introdução de co-pagamentos na saúde e educação; e concessão do serviço público de ensino a privados. A par destas propostas, Passos Coelho afirmou-se como líder da oposição, clamando contra um modelo social que assentava em «prestações sociais demasiado generosas», e pelas proposta, que fez votar na AR, de tributo solidário (obrigando os desempregados a trabalhar em troca do subsídio de desemprego), de validação de contratos verbais de trabalho e do alargamento da extensão dos contratos a prazo. Ou seja, mesmo antes da assinatura do Memorando, a proposta política deste sector do PSD era já a do corte com o modelo de Estado Social consagrado na Constituição: enfraquecimento dos direitos laborais, corte nas prestações sociais, concessão de serviço público a privados, restrição dos direitos sociais.

O Memorando permitiu a imposição desta agenda. O Memorando dá aliás o mote e justifica o processo de brutal de «ajustamento interno»: reganhar competitividade no quadro da moeda única por via dos cortes nos salários directos e indirectos (prestações sociais e serviços públicos de educação e saúde).

Num primeiro momento, o Memorando foi usado pela direita para criar um estado de excepção: foi esse o argumento usado em relação aos acórdãos do Tribunal Constitucional no que toca a cortes salariais e nas pensões. Hoje, o discurso é mais claro: é necessário refundar o regime, redesenhando os termos do contrato social em que o mesmo se estabelece.

A tese de que o «ajustamento interno» potenciará uma competitividade renovada da economia portuguesa na zona euro mostra a sua falsidade a cada trimestre. É por isso que o sustentáculo desta política não é o seu sucesso, mas antes dois pilares distintos, que se articulam mutuamente. O primeiro, relativo ao bloqueio institucional da maioria parlamentar e do Presidente da República, é sustentado por estes e pelos sectores financeiros, os mesmos que fizeram este Verão Paulo Portas recuar na sua saída do Governo. O segundo sustentáculo é o do próprio desemprego, que demonstra claramente que a política da direita funciona alicerçada pelo medo: o medo da ingovernabilidade, o medo da catástrofe social e económica, o pavor de um contexto de ruptura com a Europa e com o modelo europeu. Medos que não devem ser desprezados.

2. Um novo debate sobre Europa

No contexto das eleições europeias de 2014, o debate português sobre a Europa sofre uma alteração radical face a anteriores enquadramentos de escolha política. Á luz de dois anos de imposição do Memorando de Entendimento, a centralidade do debate europeu na sociedade portuguesa mantém-se, mas assume hoje uma configuração radicalmente diferente. De súbito, a Europa já não surge publicamente como um espaço de modernização social e de desenvolvimento da economia portuguesa. Pelo contrário, é o actor principal de um processo de brutal desvalorização dos rendimentos, de retrocesso de direitos sociais e laborais e de destruição do tecido económico.

Esta alteração na percepção do projecto europeu cria clivagens novas na política portuguesa. Sectores económicos e políticos relevantes, do centro político, compreendem bem a perspectiva de austeridade eterna, tornada política oficial europeia, e dão voz ao mal-estar de amplos segmentos, fortemente atingidos pelas políticas de austeridade: classes médias, pensionistas, trabalhadores do Estado e sectores da burguesia que dependem do mercado interno.

Algumas das mais fortes dinâmicas de protesto contra o Governo vieram da reacção destes sectores: é o caso da manifestação de 15 de Setembro, que contou com forte presença da classe média um pouco por todo o país, e que, por isso mesmo, derrotou a proposta de alteração da TSU; é o caso de figuras relevantes da área do PSD (e até do CDS/PP) que confrontam abertamente o Governo.

Além disso, a crise da dívida coloca, como vimos, questões mais abrangentes: dos efeitos da adesão ao Euro numa economia periférica, como a portuguesa, aos impactos da internacionalização das economias em sectores tradicionais que foram subitamente expostos a uma concorrência acrescida (como é o caso dos têxteis, vestuário e calçado). E ao que se soma, nas duas últimas décadas do século passado, o processo de desregulamentação do sector financeiro e de liberalização do movimento de capitais, no âmbito da preparação do ingresso no projecto de união económica e monetária (UEM).

3. A esquerda no novo debate da Europa da austeridade

No quadro político, dois anos de memorando saldaram-se em dificuldades acrescidas na articulação de forças partidárias à esquerda.

O Partido Socialista enveredou por um discurso ilusório, o de que seria possível aplicar «melhor», mais suavemente, o Memorando de Entendimento. Mas ficou enredado e refém das suas próprias contradições: a defesa do Estado Social, que o PS jura defender, é impossível no quadro do Tratado Orçamental que o mesmo PS votou favoravelmente. As declarações de Seguro, e a negociação que fez com o Governo para um eventual acordo de salvação nacional, mostram que a actual direcção do PS considera ser possível «modelar» as políticas de austeridade. Ou seja, que a questão de fundo é apenas a do grau, a da «dose» de austeridade.

O PCP, por seu turno, parece capitalizar em simpatia e votos o seu discurso de defesa nacional das imposições europeias, que no presente contexto assume uma nova acutilância. Mas mantém-se totalmente indisponível para qualquer articulação política com outras forças de esquerda. Nesse sentido, o PCP guarda os seus votos e as suas forças enquanto espaço confinado a uma resistencia identitária e de protesto de sectores populares fortemente atingidos pelas políticas europeias, mas sem perspectivas de alguma vez usar essa força para fazer política.

Já o Bloco enfrenta dificuldades que não seriam expectáveis no quadro actual. O esforço na ação unitária não tem correspondência no alargamento da sua influência. As recentes eleições autárquicas, apesar de repetirem os tradicionais débeis resultados do partido nesses sufrágios, mostraram a reduzida atractividade do BE no presente contexto. As hipóteses alimentadas por sectores da maioria do Bloco, de que seria previsível uma evolução política em Portugal que guindasse o partido a uma posição semelhante ao Syriza, na Grécia, não se confirmaram. E a proposta da renegocição, abatimento e moratória da dívida – e de uma ruptura com a troika, que tem sido a principal resposta política do Bloco – têm colocado crescentemente o partido perante a questão da eventual saída do Euro. E nesta matéria as respostas dadas ou são pouco credíveis ou pouco mobilizadoras.

O actual quadro político é pois muito complexo. Mas há, contudo, movimentos e plataformas novas que têm surgido e que procuram fazer um debate aprofundado, quer sobre os contornos da crise e do ataque ao regime, quer sobre a questão europeia. Movimentos de cidadãos como o «Que se Lixe Troika»; de pensionistas, como o APRE; da «Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida»;  os encontros promovidos por Mário Soares ou o «Congresso Democrático das Alternativas», têm lançado debates e mobilizado importantes sectores sociais. A articulação em torno de um projecto de defesa do país – da sociedade portuguesa como democracia social – mostra por isso, cada vez mais, a sua pertinência.

A democracia portuguesa fundou-se sobre dois pilares – o das liberdades políticas e o dos direitos sociais – que permitiram a sua legitimação política e o seu enraizamento social e cultural. A própria vocação europeia da democracia portuguesa sustentou-se na desejabilidade e expectativa dos padrões de desenvolvimento e bem-estar do modelo social europeu no século XX. Esse paradigma está hoje, contudo, a ser destruído. Os riscos do processo político que estamos a viver são, portanto, imensos. O contexto político que, nos anos setenta, permitiu a construção da democracia portuguesa, enquanto articulação entre liberdades políticas e direitos sociais, não é facilmente recuperável.

4. Entre a defesa do país e a solidariedade europeia

É possível mantermo-nos a meio da ponte, entre a soberania nacional e o federalismo europeu, sem destruir todas as bases da democracia? E permitindo assim que agendas sem apoio popular e sem legitimidade democrática se continuem a impor, à margem da vontade dos povos, incluindo nela a vontade dos portugueses? Se concluirmos, como só podemos concluir, que apenas a soberania nacional ou um federalismo democrático na Europa podem defender a democracia, então teremos que fazer escolhas. Será avisado defender mais transferências de poder para instituições supranacionais conhecendo, como conhecemos, a adversa correlação de forças sociais e políticas na Europa? Não seria essa opção um suicídio, como o foi o passo em frente na construção da moeda única?

Esta opção significa assumir, de forma plena e de princípio, todas as consequências que se associam a um processo negocial com a Troika, incluindo a saída do euro. Mais: apenas assumindo a disposição para ir até às últimas consequências, em resultado de uma convicção consciente e firme sobre a impossibilidade de permanecer num sistema monetário que apenas nos destina a um empobrecimento sem fim, qualquer negociação poderá comportar margens de sucesso.

É esse o problema que se coloca em relação ao euro. O euro é, no actual quadro de correlação de forças políticas, irreformável: correspondeu e continuará necessariamente a corresponder à construção de um fosso intransponível entre centro e periferia europeia, que obrigará a um processo de subdesenvolvimento das economias mais fracas da União. E é justo afirmar que, mesmo que muito mudasse em Portugal e na Europa – e era preciso que muito mudasse em Portugal e na Europa – não há, dentro do euro, futuro para um crescimento económico do país que seja socialmente sustentável.

No entanto, a saída de Portugal do euro, seja como projecto alternativo para vencer as causas estruturais desta crise, seja como consequência indesejada de um verdadeiro processo negocial com os credores, não está isenta de enormes riscos. A começar pelos riscos políticos. Não podemos ser realistas quando constatamos os enormes bloqueios políticos e económicos da Europa e sermos ao mesmo tempo utópicos quando projectamos uma determinada proposta no plano nacional, como se o país fosse uma folha em branco e um futuro governo nascesse no váacuo e correspondesse apenas aos nossos desejos. Não existe uma maioria social que suporte a escolha de sair do euro. Não há aliança política de poder que se possa fazer em torno dessa solução. Ou seja, independentemente da sua justeza (e até do seu realismo, numa perspectiva estritamente económica), ela isola os seus defensores numa minoria que até poderá vir a ter peso político, mas que cria neste momento – entre si mesma e os seus aliados naturais, à esquerda – um fosso cada vez mais intransponível, atirando a solução para as mãos dos defensores do europeísmo acrítico que nos trouxe até aqui.

Resta, à nossa esquerda, uma saída com a qual ela sempre viveu com dificuldade: o compromisso. E esse compromisso centra-se num conjunto de mínimos denominadores comuns, aceitáveis por todos:

1. A assunção de que mesmo que houvesse uma solução da crise para breve, o euro continuaria a ser um dos principais problemas económicos do país e é nessa perspectiva que ele deve ser tratado e encarado;

2. Que assumindo todos os riscos desta posição, não acreditamos que nenhuma solução democrática para sair desta crise deva ser tratada como um tabu;

3. Que a integração Europeia só pode dar novos passos na condição de esses mesmos passos estarem subordinados tanto a uma maior democratização da União, quanto à soberania democrática dos povos, não podendo corresponder a mais perdas de poder relativo dos países periféricos na Europa;

4. Que Portugal tem, pelas suas condições económicas e históricas, interesses próprios. Interesses de que a esquerda não abdica, tendo em conta a enorme fragilidade em que se encontra o seu povo e os seus trabalhadores, e a imperiosa necessidade e urgência de os defender;

5. Que a defesa da democracia e do Estado Social portugueses são a prioridade da esquerda, a condição sine qua non de qualquer forma de europeísmo e assumindo mesmo que a própria ideia de europeísmo só é válida para nós na medida em que constitua um instrumento de ampliação de liberdades cívicas, de direitos sociais e de desenvolvimento económico.

Em suma: a esquerda em que nos integramos não pode, porque não tem condições para tanto, resolver o impasse em que toda a Europa e, em particular, o impasse em que os seus países periféricos se encontram. Pode apenas, porque é isso que as suas forças e a situação actual permitem, definir os limites do debate e, com isso, priorizar as alianças que pretende fazer. E elas são, em última análise, pelo menos neste momento, com todos os patriotas democratas. Se a situação económica e política permitir que o debate evolua no sentido de uma maior clarificação política, as portas não devem estar fechadas. Mas vivemos num tempo de juntar forças e de procurar as mais amplas alianças, e não num momento de dividir águas, que apenas enfraquece o campo de contestação à austeridade.