As campanhas presidenciais portuguesas são sempre estranhas. Não se votando para um executivo, ou seja, para decisões, programas, medidas, a coisa toma um de dois caminhos: ou se fala do entendimento dos poderes presidenciais em termos vagos; ou se fala da história pessoal dos candidatos. Ou seja: ou é metafísica ou é não-gosto-deste-gajo.
Isto, curiosamente, faz sentido. Para presidente escolhemos quem saiba duas coisas: interpretar e representar. Escolhemos uma interpretação da separação dos poderes e da república, ou seja, uma interpretação da constituição. E escolhemos uma pessoa que nos represente a todos, e faz sentido avaliar o seu caráter e a sua história, coisas altamente subjetivas.
Foi a campanha esclarecedora? Sempre — para quem observar; para quem se informar.
Para mim foi esclarecedor rever Cavaco. Para mim, Cavaco é um mau interprete da democracia e da República com as suas desvalorizações da palavra e da diferença. E acho-o um símbolo da hipocrisia nacional, da sisudez travestida, do autoritarismo que eu não gostaria que nos representassem. Mas que se calhar representam, e eu democraticamente aceitarei.
Mas até lá é isto: não gosto da metafísica de Cavaco, se é que a tem. E não sou fã do homem. Direitos de um eleitor como qualquer outro.
Publicado no Jornal Público no dia 20 de Janeiro de 2011