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‘censura’

A política quer-se clara. E o momento que o país vive exige-o em dobro. O apodrecimento da situação do país desafia todas as forças políticas a mostrar sem tacticismos os seus propósitos. Para a vida concreta das pessoas, a crise é isto: o afundamento da economia, o ataque nunca visto contra o salário, a desconsideração dos pobres e desempregados, a hipoteca de uma geração condenada a estudar para a escravidão.

Tacticismo é encarar esta realidade e decidir que é melhor que o governo arda em lume brando e atacar só quando as sondagens garantirem uma vitória. Tacticismo é fingir que direita e esquerda criticam o governo pelas mesmas razões e não clarificar posições mesmo que isso não dê maioria.

A moção de censura anunciada pelo Bloco de Esquerda diz sem subterfúgios ao que vem. O país é (des)governado por uma hiper-maioria PS-PSD, que se entende para os PEC, para o Orçamento e para a ofensiva sem precedentes contra os direitos sociais e os serviços públicos. Mas essa maioria finge que o não é. E a culpa morre solteira todos os dias. Houve até quem alegasse que a subida dos juros da dívida era responsabilidade… do Bloco! É uma moção que, em nome de quem está a pagar o desgoverno da coligação PS-PSD, quer parar esta ofensiva mas que não se equivoca, não estende a passadeira ao extremismo liberal da direita. Vai perder? Não, já tem pelo menos uma essencial vitória: a pressa e o tom com que a direita veio em apoio de Sócrates são o rosto desse sucesso do Bloco.

Publicado por José Manuel Pureza no Diário das Beiras no dia 17 de Fevereiro de 2011