A crise tem costas largas. À sua sombra tomam-se decisões absurdas que só agravam as debilidades estruturais do país. A construção de uma mini-hídrica no Mondego é uma dessas decisões.
A região de Penacova tem já 4 hidro-eléctricas: Fronhas, Raiva 1, Raiva 2 e Aguieira. Uma nova mini-hídrica trará um acréscimo meramente residual de geração de electricidade. Por que não se equacionou então o aumento de potencial de produção de Fronhas?
A construção da mini-hídrica criará postos de trabalho, é certo. Mas meramente temporários, até porque se prevê que o funcionamento será totalmente automatizado. Em contrapartida, ela acarretará a destruição de uma série de actividades económicas centradas no rio, desde a agricultura nas margens aos aproveitamentos turísticos, que dinamizam o emprego local e geram rendimento com grande importância para a região. Por que razão então se deu primazia aos 3,5 milhões de euros que o concessionário pagará de imediato ao Estado e não aos muitos mais milhões que se deixará de receber em virtude dessa morte de economias locais?
O Estado gastou centenas de milhar de euros na construção de uma escada de peixe que minorasse os efeitos nocivos do açude de Coimbra sobre as migrações piscícolas imprescindíveis para a reprodução de espécies de elevado valor (sável, lampreia). Por que razão se anula agora o impacto desse investimento com a construção desta mini-hídrica?
Eis o retrato da crise: desperdício sem sentido e cortes injustos. Decida o povo se isto está bem.
Publicado por José Manuel Pureza em Diário das Beiras a 6 de Abril de 2011