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Resolução política aprovada na Assembleia Geral

FÓRUM MANIFESTO – ASSEMBLEIA GERAL

12 Julho 2014

  1. Decorridos três anos da assinatura do Memorando de Entendimento, Portugal encontra-se hoje mais pobre, desigual e vulnerável. Sujeito a constrangimentos profundos, que decorrem do próprio «ajustamento», do garrote da dívida e do quadro de imposições externas, paira sobre o país a ameaça de um processo de aprofundamento continuado da atual regressão económica, social e política. Chamadas a responder a este momento crucial da nossa história, com as próximas eleições legislativas já no horizonte, as esquerdas têm revelado uma persistente incapacidade para romper com o bloqueio em que se encontram, seja pela dificuldade de encontrar soluções alternativas, credíveis e viáveis à trajetória da austeridade, seja pela dificuldade em constituir plataformas comuns de entendimento e compromisso entre elas.
  2. As derrotas consecutivas que o BE acumulou nos últimos anos, e que o conduziram à magra expressão eleitoral obtida nas últimas eleições europeias, não são um reflexo de factores externos. São fruto da acumulação de erros não corrigidos, inscritos numa orientação política que divorciou crescentemente o BE do seu potencial eleitorado. Perante a opinião pública, o Bloco vincou, ao longo dos últimos anos, a imagem de um partido cada vez mais virado sobre si próprio, indisponível para o diálogo e para a convergência com outras forças políticas à esquerda; centrado no protesto, e por isso indisponível para estabelecer compromissos efetivos de governação; revelando uma insuficiente, inconsistente e até, por vezes, contraditória construção programática. Isto é, um partido que surge aos olhos dos cidadãos como incapaz de responder, com realismo, credibilidade e determinação, aos problemas e desafios com que o país se confronta de forma dramática e urgente.
  3. Quando a Política XXI, que viria posteriormente a converter-se na Associação Fórum Manifesto, ajudou a fundar o Bloco de Esquerda, fê-lo na convicção de que este partido seria a força necessária para quebrar o bloqueio então existente, entre um PS alinhado com o centro político e um PCP indisponível para a governação. Na sua génese, o Bloco assume pois, como compromisso matricial, o papel da construção de pontes e do fomento do diálogo entre as esquerdas, procurando nesses termos estimular um processo comum de renovação programática, capaz de superar os bloqueios gerados pela crise da social-democracia e pela queda do muro de Berlim. Passada quase década e meia da sua existência, constata-se porém o abandono consciente e reiteradamente afirmado nos últimos anos da missão política em que assentou a criação do Bloco de Esquerda. Por isso, a Manifesto considera esgotada a sua participação enquanto corrente fundadora do Bloco, decidindo assim pela sua desvinculação a este projeto político. Embora, tal como até aqui, esta decisão não vincule cada um dos seus ativistas, que são livres de permanecer, ou não, como aderentes do Bloco de Esquerda.
  4. A superação do impasse em que a esquerda se encontra, imprescindível para a construção de soluções e propostas capazes de devolver a esperança ao país, requer que seja retomada a vontade de construir, com todos os que estejam para tal disponíveis, uma alternativa urgente que assegure a defesa do país, do seu desenvolvimento, da democracia e dos direitos sociais. Tendo como ponto de partida uma postura de diálogo e disponibilidade para estabelecer compromissos, a Manifesto entende ser necessário desenvolver outros espaços de intervenção política, capazes de contribuir para a formação de convergências fortes e credíveis à esquerda do PS, com claros objetivos de influenciar a governação do País neste momento de urgência nacional. Decide assim promover, ao longo dos próximos meses, iniciativas concretas nesse sentido, tendo como horizonte imediato as próximas eleições Legislativas, previstas para 2015. O Conselho Geral da Associação Fórum Manifesto fica mandatado para desenvolver estes esforços, cabendo a uma próxima Assembleia Geral a discussão e deliberação acerca dos seus resultados.

Aprovado por maioria.