As políticas públicas definem as regras do jogo económico e assim também ajudam a decidir quem pode gerar e transferir que custos para quem. Isso é claro nas regras do jogo que inevitavelmente estruturam as relações laborais e distribuem direitos e obrigações, ou seja, poder. Por isso é que a rigidez e a flexibilidade são questões de percepção selectiva: a opinião dominante só se põe no lugar de quem estruturalmente já detém mais poder porque controla os activos, só simpatiza com uma das partes. Porquê?
O governo, segundo nos informa Raquel Martins no Público, quer permitir que os patrões possam transferir mais alguns custos para os trabalhadores e para o conjunto da comunidade. Os custos que os patrões têm com os despedimentos reduzir-se-iam pois passariam a ser parcialmente suportados por um fundo também financiado com dinheiros públicos. Um incentivo pecuniário ao despedimento, tornando-o mais atractivo, uma opção mais tentadora. Os outros que paguem os custos do crescente desemprego.
A criação de emprego, por sua vez, depende fundamentalmente do andamento da procura e essa foi profundamente deprimida pela crise e pelas políticas de austeridade. Além disso, num contexto de crise permanente das finanças públicas, numa economia de baixa pressão salarial e de desemprego elevado, esse fundo seria frágil e facilmente removível a prazo. É a política governamental do plano inclinado, rumo a mais insegurança, desemprego e desigualdade.
Publicado por João Rodrigues em ladroesdebicicletas.blogspot.com