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‘E Agora?’

Conservadorismo, cepticismo e disponibilidade para soluções providenciais fizeram caminho nas eleições de domingo. As propostas de resistência alicerçadas numa crítica ideológica do poder ao centro, foram derrotadas.

Mas o mais inquietante dos resultados destas eleições é a amplitude da aversão à política que hoje atravessa a sociedade portuguesa. Ela é uma das marcas mais perversas da crise presente. Instalou-se na sociedade portuguesa uma percepção da política que a identifica com um lamaçal e um reduto de medíocres, blindado à participação cidadã. Ora, o que é realmente preocupante é que essa visão da política como algo repugnante para os cidadãos puros alimente uma funda descrença na possibilidade de políticas alternativas. As alternativas são sempre situadas ou na privacidade das atitudes individuais ou no campo das relações sociais supostamente descontaminadas da política.  Por isso, quem se apresentou no domingo como “não político”, como jogral da política ou como imune à suposta podridão dos políticos foi premiado.

A vitória de Cavaco Silva, apesar de ter sido a mais curta das reeleições presidenciais da nossa democracia, reforçou a hegemonia ideológica e política da Direita. E isso desafia quem nela não se reconhece a duas procuras essenciais: identificar procedimentos e discursos para a política que se distanciem de fórmulas requentadas do passado e identificar movimentos e actores para essas políticas.

Publicado por José Manuel Pureza em Diário das Beiras no dia 27 de Janeiro de 2011