Revela muito que em campanha diz defender estado social mas só fala de misericórdias, diz defender educação de excelência mas nunca fala de escola pública e diz que a saúde é um bem essencial mas o SNS nem sequer é referido.
Passos Coelho está realmente preocupado com o seu futuro, de tal maneira que sentiu necessidade de clarificar a Cavaco que o governo nunca iria cair no seu colo por vontade de… Cavaco. Já se percebeu que ele não faz governo a menos que Cavaco lho permita e isso retira-lhe legitimidade, mas no fundo Cavaco Silva até prefere trabalhar com um político que lhe garante uma agenda política alinhada com o actual governo do que ter que passar os dias em recadinhos discretos entre Belém e São Bento a ensinar o jovem Passos. É que o líder do PSD revelou-se particularmente imaturo nesta coisa de fazer política. Todas as iniciativas que lançou acabaram em desastre ou, pior, numa espécie de esquecimento peculiar à política – toda a gente se lembra mas finge que não aconteceu por que no fundo ninguém queria que acontecesse logo, não aconteceu. O acordo político para os PECs, a reforma constitucional, a total liberalização dos despedimentos, o amuo com Sócrates e a negociação e aprovação do Orçamento de Estado de 2011, é um currículo ominoso para quem quer ser primeiro-ministro daqui a uns meses. Não me espantaria se Cavaco obrigasse Passos a um governo de coligação com o PS. Passos ficou assim refém da agenda de Cavaco e tenta agora aproveitar toda e qualquer situação para ganhar espaço de sobrevivência e manobra para o seu desejado governo. Nesta lógica a entrada do FMI é o golpe perfeito. Com eles o PSD será capaz de tudo. A privatização do SNS e da escola pública, mais cortes de salários, mais despedimentos, mais recessão e austeridade sempre. E Cavaco vai continuar preocupado, numa magistratura activa de apoio à austeridade. Revela muito que em campanha diz defender estado social mas só fala de misericórdias, diz defender educação de excelência mas nunca fala de escola pública e diz que a saúde é um bem essencial mas o SNS nem sequer é referido. Sobre os cortes dos salários dizia hoje ‘é preciso respeitar os funcionários públicos’ mas ‘o que é preciso é olhar para o futuro’. É preciso ter lata. É que Cavaco Silva não mudou com o seu primeiro mandato e não vai mudar com a magistratura de influência. Este é o mesmo Cavaco Silva que não emitiu uma palavra sobre as exigências dos professores nas grandes manifestações de 2008, ou sobre os direitos dos trabalhadores na maior manifestação da inter-sindical, mas bastou as escolas privadas estrebucharem para lhes garantir lhes garantir um veto presidencial e uma voz pública das suas exigências. Não é e nunca será o Presidente de todos os Portugueses. Dia 23 a escolha é clara.