Ficámos hoje a saber, através do jornalista Carlos Cipriano, que os caminhos-de-ferro perderam 99 milhões de passageiros em duas décadas, uma redução de 43%; Portugal tem 20 metros de auto-estrada por Km2 (a média europeia é de 16 metros) enquanto que na rede ferroviária temos 31 metros por Km2 (a média europeia é de 47 metros). São os efeitos de uma política pública míope, mas coerente com o regime socioeconómico em que vivemos, que favoreceu excessivamente o automóvel em detrimento do que só pode ser transporte público. Para além de todos os custos sociais, opções destas não terão certamente ajudado nas nossas relações económicas com o exterior. De resto, e como sublinhou Tony Judt num ensaio sobre caminhos-de-ferro, tratou-se também aqui de desaprender “a partilhar o espaço público para beneficio comum”.
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‘Para que não se diga “os economistas dizem…”‘
Nuno Garoupa, destacado economista do direito e da direita intransigente, queixa-se do suposto oligopólio da lucidez sobre o erro deste euro atribuído a João Ferreira do Amaral por jornalistas pouco rigorosos. Como Garoupa tem o mau hábito de ser demasiado vago, preferindo quase sempre prescindir de nomes, suponho que está a referir-se à informadaentrevista feita por Ana Sá Lopes e Nuno Aguiar. Continuar a ler ‘Para que não se diga “os economistas dizem…”‘
‘Onde está a imoralidade?’
Vale a pena ver o Inside Job, um bom documentário sobre a grande crise causada pelo neoliberalismo. Esquecendo um certo moralismo sobre os estilos de vida dos especuladores ou a idealização de certas elites políticas europeias, visível nas entrevistas à Ministra das Finanças francesa ou ao Director do FMI, concentro-me em três pontos fortes de um documentário simples, mas não simplista, apenas prejudicado pela legendagem.
‘Europeísmo crítico’
Em Portugal, o romance europeu das elites, o dos amanhãs europeus que cantam sempre, acabou. Basta ter visto Freitas e Soares, dois convictos europeístas, ontem na TVI24. Defenderam a necessidade das periferias baterem o pé ao eixo franco-alemão de Merkel e Sarkozy e pugnarem por uma reconfiguração progressista da integração europeia.
‘Socializar custos’
As políticas públicas definem as regras do jogo económico e assim também ajudam a decidir quem pode gerar e transferir que custos para quem. Isso é claro nas regras do jogo que inevitavelmente estruturam as relações laborais e distribuem direitos e obrigações, ou seja, poder. Por isso é que a rigidez e a flexibilidade são questões de percepção selectiva: a opinião dominante só se põe no lugar de quem estruturalmente já detém mais poder porque controla os activos, só simpatiza com uma das partes. Porquê?