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‘Contas da Saúde’

O défice do Serviço Nacional de Saúde (SNS) alimenta uma das mais importantes discussões da nossa democracia. A dívida acumulada rondará os 2500 milhões de euros. Perante a dimensão deste número, a direita rejubila e transforma-a na demonstração de que o SNS é insustentável. Daí à sua sentença de morte vai um passo, para a qual Passos Coelho tem uma receita: a privatização do SNS.

Ora, a esta forma de a direita lidar com o problema, a democracia tem que opor uma outra diametralmente oposta: o SNS tem o défice que tem por força de um sub-financiamento que os sucessivos governos não cessaram de perpetuar. Só no ano que agora entra o acordo entre PS e PSD impõe que o orçamento do SNS seja reduzido em 15%.

O resultado é inevitável: aumenta o défice e degradam-se os cuidados e a assistência prestada. Bem diferente seria a situação se houvesse coragem de cortar no desperdício: desperdício na contratação de serviços aos privados desaproveitando as capacidades instaladas no SNS, desperdício na política do medicamento, refém de compromissos e cumplicidades que puseram os hospitais nas mãos das grandes farmacêuticas, desperdício em obras que não se iniciam e se atrasam ou que não abrem apesar de concluídas como o Hospital Pediátrico de Coimbra.

O SNS não é insustentável. Assim haja coragem de o financiar devidamente. Não é difícil, basta que se façam as escolhas certas.

Publicado por José Manuel Pureza em Diário das Beiras no dia 23 de Dezembro de 2010