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‘Um ano’

Este foi um ano em que tudo se tornou mais volátil, salvo a diferença cada vez maior entre os rendimentos do trabalho e do capital. Este foi um ano em que as proclamações dos governantes mudaram da manhã para a tarde, salvo as que insistiram em penalizar quem tem menos como receita para sair (?) da crise. Este foi um ano em que a crise foi a tónica de todas as vidas, excepto as daqueles que puderam beneficiar da antecipação da distribuição de dividendos milionários.

Na sua mensagem de Natal, o Primeiro Ministro reeditou a divisa política de Margaret Thatcher: “não há alternativa”. Para Sócrates como para o rosto político mais destacado da viragem neoliberal dos anos 80, a política dos cortes nas prestações sociais e nos salários da função pública é “o único caminho”. E assim, afirma Sócrates, reganharemos a confiança dos mercados internacionais.

A verdade é que 2010 começou e acabou com desmentidos práticos dessa ilusão. No princípio era o PEC. E vinha aí a bonança. Não veio. Vieram mais PECs. Sempre a cortar no Estado Social. Para ele ficar mais forte, afiançou Sócrates. Quanto mais pequeno mais forte, acha ele. Os mercados só ouvem a primeira parte da frase. E aplaudem.

O ano que vem aí será de escolhas entre esse aplauso dos mercados e o primado da decência e da justiça na nossa vida colectiva.

Publicado por José Manuel Pureza em Diário das Beiras no dia 29 de Dezembro de 2010