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‘A não-felicidade’

O Conselho Europeu do passado fim-de-semana foi assombrado pelo espectro de um plano franco-alemão para a governação económica da União Europeia. Angela Merkel afirmou que 2011 é o ano de uma renovada confiança no euro e que esperava que o actual presidente do Conselho Europeu tratasse dos detalhes de execução do seu plano; aí, Sarkozy fez de Dupont e afirmou que este iria fortalecer a competitividade e a convergência das diferentes economias.

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‘O novo mundo árabe’

Para além da religião e da língua, uma coisa se repete nas paisagens do Cairo, de Damasco, de Amã ou de Sanaa: retratos de ditadores. No Cairo, a fotografia de Mubarak olha-nos em cada canto, sendo certo que, se nada acontecesse, no lugar dela seria posta a do seu filho Gamal. Em Amã, é a fotografia do Rei Abdullah que ocupa o espaço público. Em Sanaa, o bigode de Saleh está em todas as esquinas. Em Damasco, Bashar al-Assad divide a iconografia da ditadura com o pai que governava antes dele e com o falecido irmão que deveria ter ficado com o seu lugar. Mas os símbolos populares são outros: no Iémen, quando lá estive, em 2005, era a cara de Yassin, líder religioso do Hamas abatido pelos israelitas; na Síria, quando lá estive, durante os bombardeamentos israelitas ao Líbano em 2006, eram as bandeiras amarelas do Hezbollah; no Egito é a Irmandade Muçulmana.

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‘Quando não é bom ter razão’

Não é bom ser desmentido por três ministérios ao mesmo tempo. Pior ainda? Ter razão.
No início deste ano fui contactado para comentar uma notícia saída no DN que dava conta de um acordo assinado entre Portugal e os EUA para transferência de dados biográficos, biométricos e de ADN de cidadãos portugueses.
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‘Infinita Plasticidade’

Jacob Burckhardt — um historiador da arte, de nacionalidade suiça, que viveu durante o século XIX — lamentou-se uma vez escrevendo que “o mundo está submerso em falso ceticismo”, acrescentando logo depois “já que do verdadeiro ceticismo nunca pode haver demasiado”.

Não é fácil interpretar isto, mas vale a pena tentar.

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‘Reduzir a Democracia’

Paira sobre a nossa democracia a ameaça do desvirtuamento da sua autenticidade representativa. A proposta de redução do número de deputados/as, a que esta semana deu voz o Ministro Jorge Lacão, arranca de pressupostos populistas e perverte a representação como elemento essencial da democracia.

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‘Desaprender’

Ficámos hoje a saber, através do jornalista Carlos Cipriano, que os caminhos-de-ferro perderam 99 milhões de passageiros em duas décadas, uma redução de 43%; Portugal tem 20 metros de auto-estrada por Km2 (a média europeia é de 16 metros) enquanto que na rede ferroviária temos 31 metros por Km2 (a média europeia é de 47 metros). São os efeitos de uma política pública míope, mas coerente com o regime socioeconómico em que vivemos, que favoreceu excessivamente o automóvel em detrimento do que só pode ser transporte público. Para além de todos os custos sociais, opções destas não terão certamente ajudado nas nossas relações económicas com o exterior. De resto, e como sublinhou Tony Judt num ensaio sobre caminhos-de-ferro, tratou-se também aqui de desaprender “a partilhar o espaço público para beneficio comum”.

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‘Jogo Alto’

A história acelera; as respostas chegam quase antes de termos imaginação para fazer as perguntas. Qual é a próxima Tunísia? O Egito. Quanto tempo demorou? Menos de duas semanas.

Ainda estávamos a considerar a hipótese de uma revolta civil num país árabe e já Ben Ali tinha apanhado o avião. Ainda os comentadores ocidentais se entretinham com a eventualidade de o exemplo tunisino ser seguido e já havia levantamentos na Jordânia, no Iémen, e no Egito. E agora eis-nos seguindo pela Al-Jazira um vasto movimento de desobediência civil neste último país. E já o líder da oposição, Mohamed el Baradei, fala aos cairotas: não vamos voltar para trás.

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