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‘Não resolvemos nada’

Terminou um ciclo. Estamos tão bloqueados quanto antes. É como se o país estivesse tomado de pânico. Vê o abismo mas não tem vigor para mudar de caminho nem imaginação para inventar um.

Sendo eu de esquerda, e agora político, e apoiante de Alegre, sou hoje triplamente derrotado. Entregaremos agora o país à recessão, ao FMI e (talvez em breve) a um prolongado governo de direita, com a esquerda dividida e deprimida. Espero que Alegre use a sua autoridade moral para continuar a acrescentar tolerância à esquerda.

Em 2006: que vai fazer Alegre com os seus votos? Em 2011: que vai fazer Nobre? Um palpite arriscado: deve estar neste momento a pensar fundar um partido.

Coelho teve 40% na Madeira! Merece exclamação, porque prova que os madeirenses estão fartos de Jardim e descrentes de uma oposição sem vigor contra Jardim.

Cavaco. O mito acabou. As notícias sobre a sua casa são graves e demonstram uma desonestidade estrutural que nem eu lhe imaginava. Passou a ser um Sócrates, mas em sonso. Como vai o país aguentar dois assim?

Publicado no Jornal Público no dia 24 de Janeiro de 2011

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‘Pequenos milagres democráticos’

O meu pai nasceu em 1929, já em ditadura. Cresceu numa aldeia do Ribatejo, ditadura. Veio a Guerra Civil de Espanha, havia refugiados do país vizinho pelos campos, “comiam até o musgo das paredes, com a fome que tinham” dizia-me ele de vez em quando. Depois a IIª Guerra Mundial, o racionamento, e as irmãs dele — minhas tias — adoeceram gravemente — “entuberculisaram”, como se diz na Arrifana. O pai do meu pai morreu, e era ainda ditadura. O meu pai namorou e desfez-se o namoro, casou e teve filhos e enviuvou, e casou de novo com a primeira namorada e teve mais filhos e, em todo este tempo, era sempre, sempre, sempre a mesma ditadura.

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‘Para que não se diga “os economistas dizem…”‘

Nuno Garoupa, destacado economista do direito e da direita intransigente, queixa-se do suposto oligopólio da lucidez sobre o erro deste euro atribuído a João Ferreira do Amaral por jornalistas pouco rigorosos. Como Garoupa tem o mau hábito de ser demasiado vago, preferindo quase sempre prescindir de nomes, suponho que está a referir-se à informadaentrevista feita por Ana Sá Lopes e Nuno Aguiar. Continuar a ler ‘Para que não se diga “os economistas dizem…”‘

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‘Esclarecedor para quem observar’

As campanhas presidenciais portuguesas são sempre estranhas. Não se votando para um executivo, ou seja, para decisões, programas, medidas, a coisa toma um de dois caminhos: ou se fala do entendimento dos poderes presidenciais em termos vagos; ou se fala da história pessoal dos candidatos. Ou seja: ou é metafísica ou é não-gosto-deste-gajo.

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‘Wikileaks 1 – NATO 0’

A “sabedoria convencional” — noção tão útil quanto saborosa concebida pelo economista John Kenneth Galbraith — necessita daquele adjetivo por esta razão: é principalmente convencional e não sabedoria. Se fosse sabedoria diríamos dela apenas que é sábia. Ao qualificá-la de convencional explicamos que ela parece sabedoria pelo seu aspecto formal, admitido e, em certa medida insincero ou até mesmo fajuto: pseudo-sabedoria.
Começava Galbraith notando que certas verdades não são aceites por serem verdades mas antes por serem aceitáveis, o que é uma coisa muito diferente, e que de caminho possibilita que outras ideias aceitáveis — até mentiras — passem por verdades também.